Coletiva
Rogério Zimmermann garante deixar o Brasil após o fim da Série D
Em entrevista coletiva, treinador xavante reforça mobilização da comissão técnica e jogadores para avançar de fase, mesmo com os salários atrasados
Foto: Fernando Rascado - DP - Treinador poderá se despedir do clube neste sábado
Na tarde desta quinta-feira (20), o técnico Rogério Zimmermann concedeu entrevista coletiva no Bento Freitas para falar sobre o jogo decisivo desde sábado, às 18h, diante do Concórdia, pela última rodada do grupo A8 da Série D do Campeonato Brasileiro. Além de abordar a partida, o treinador falou sobre a situação do clube, os salários atrasados, confirmou sua saída do cargo depois do fim da participação na temporada e também comentou sobre a a perda de Toninho Castilhos, preparador físico rubro-negro, que morreu na terça-feira.
A morte de Toninho Castilhos, preparador físico do Brasil
"Um profissional extremamente competente. Uma pessoa correta, honesta, um ser humano fantástico. Não vou me estender muito. Acho que nós deveríamos fazer a entrevista só falando sobre ele, pela carreira que teve, mas enfim… É um pouquinho difícil falar. Fica o registro e passamos pra entrevista."
Situação do clube
"Todo mundo sabe da dificuldade. Eu sempre procuro evitar falar alguma coisa interna, publicamente, antes que os dirigentes se manifestem. Sou profissional, não cabem a mim essas coisas. Me parece que o próprio Ricardo falou sobre os salários atrasados, o presidente do Conselho Fiscal… Então menos mal que as pessoas estão entendendo a situação e procurando esclarecimento. Acho que isso é fundamental, o torcedor tem que agradecer a todas as pessoas que procuram dar transparência ao clube.
Nós vamos fazer essa última partida dessa fase, e podemos classificar ou não. Tenho que fazer um agradecimento a esse grupo de atletas, independente do resultado. A gente pode classificar, e aí pode parecer que estou elogiando pela classificação. Diante de todas as dificuldades, o profissionalismo deles é impressionante, e tenho que deixar claro isso pro nosso torcedor. Na competição mais importante do ano pra nós, começaram a acontecer coisas que prejudicam. Essa questão dos atrasos de salário… E o jogador agora na Série D está pagando seu aluguel, sua moradia, então isso dificulta. Perdemos o local de treino, e até agradeço ao Marini publicamente, porque apesar das situações com o clube, ele que está emprestando a máquina pra cortar o gramado. Ele quer ajudar o clube".
Salários atrasados
"Houve uma promessa que eles iam receber o salário com o dinheiro da Copa do Brasil e não aconteceu isso. Uma promessa feita no vestiário pela pessoa que comandava o clube. Ficaram esperando quase um mês pra receber. Isso prejudica, aliado ao que a gente falou de tu jogar três partidas sem público, todo o primeiro turno sem ter um jogo em casa [com torcida]. Por isso elogio muito os atletas.
Os jogadores treinam, se dedicam, mesmo passando todo esse período com salário atrasado. Não sei se o Rafael Costa, que chegou em junho, recebeu alguma coisa ainda. Talvez a gente precise dos gols dele no fim de semana sem ele ter recebido um real. É difícil. Rogério, dá pra subir o time? Dá. Eu brinco: ‘vou ali pegar uma capa vermelha, já vou subir o time’.
Em 2012, voltei, o clube sabia que ficou alguma coisa em a ver. Fizeram um churrasco com conselheiros, com sócios. ‘Ó, Rogério, tá aqui o que a gente devia pra ti’. Então sempre fica alguma coisinha. Quando voltei, reconheceram que ficou alguma coisa. Sem juros, sem correção, sem nada. ‘Tem como a gente pagar isso em suaves prestações?’. Não foi paga nenhuma parcela. Tem umas sete, oito parcelas atrasadas. A premiação da Copa do Brasil ainda não recebi. Isso tudo foram decisões de quem estava antes. Estou com praticamente dois meses de salário atrasado.
Aí o torcedor vai perguntar: ‘Rogério, e aí?’. Eu não vou sair porque eu tenho um compromisso com o torcedor e com os jogadores que pedi pra virem sem o clube ter credibilidade nenhuma. Mas como vou sair, deixar o clube numa situação difícil, e principalmente os atletas? Eu disse que eu ia ficar só até o final dessa competição. Tive promessas no vestiário não cumpridas. O torcedor precisa saber que esses atletas estão passando dificuldades e estão honrando a camisa. Pode ser que resultados paralelos nos ajudem e a gente não ganhe o jogo. Mas se o torcedor, mesmo perdendo, puder aplaudir o jogador, não pelo desempenho ou resultado, mas pelo profissionalismo que tiveram todo esse tempo. Por terem aceitado vir para o Brasil e continuado com a mesma postura mesmo com as condições prometidas não cumpridas. Eles conseguem separar promessas de dirigentes do clube. Se o torcedor encontrar o atleta na rua e puder agradecer, me faria um grande favor.
E vamos torcer pra que as pessoas esclareçam o que aconteceu sobre os valores que entraram no Brasil. Estou falando pelo que ouvi dos dirigentes. É engraçado, ano passado atrasou o salário porque não passou da primeira fase da Copa do Brasil. Esse ano chegou na terceira fase e não atrasou também. Ano que vem alguém vai dizer que vai ser difícil porque não vai ter Copa do Brasil? Ter ou não ter Copa do Brasil não é problema."
Elogios ao elenco
"O grupo está mobilizado. Estamos hoje com 20 atletas de linha. Saiu o Tony, saiu o Patrick. Por que não contratamos? Nós somos responsáveis. Não saímos um real daquilo que foi prometido lá no início do ano. Valores do Gauchão é esse, valor da Série D é esse. ‘Precisa passar da primeira fase da Copa do Brasil? Não precisa. Porque se precisa, não vou pegar’. Tomara que os dirigentes esclareçam. Porque talvez o jogador não esteja mais aqui na segunda-feira. Mas se eles aqui não recebem valores, em casa vai ser mais difícil. É com esse contexto que vamos jogar uma partida decisiva. Por isso queria elogiar nosso grupo de atletas. Só estamos chegando um pouquinho de chance, mas pouquinho, em função deles. Esses caras são fantásticos.
Qualquer jogador desistiria, mas esses não. Tenho esperança em classificação. Tem três ou quatro jogadores que estão treinando e jogando com dores que normalmente fariam o jogador não jogar. Se não quisessem atuar por esses motivos, eu entenderia. É uma pena que esse grupo, um bom grupo, não teve a sorte de pegar o Brasil numa situação melhor. Esse grupo merecia boas condições de trabalho. Quando ele, ele devolveu alguns milhões pro clube. Ele se pagou".
A força do clube
"Me apego na força da torcida, na força do clube, e no comportamento desses jogadores, que é impressionante. O grau de comprometimento e profissionalismo desses caras. […] Apesar das dificuldades, tem muita coisa boa no clube. Tem gente tentando esclarecer as coisas pra que isso não se repita.
Isso não tira o nosso foco do jogo. A gente consegue separar. Estamos treinando muito e vamos se matar. Quando a gente conseguiu manter o Brasil na primeira divisão [estadual], e ter garantido Série D pro outro ano, me trouxe um alívio. O Brasil, depois de passar essa turbulência, vai ter tempo de se planejar. Ele tem competição nacional no ano que vem. Vamos lutar muito ainda pra classificar, pra ir pros mata-matas. Eu converso sobre isso não no sentido de tornar alguma coisa pública, porque vocês já sabem. Também acho que posso colaborar falando sobre isso.
Esse clube precisa ter estrutura e organização pra estar entre os melhores. E isso passa pela organização que posso colaborar com o clube é sendo um bom profissional, fazendo os atletas se dedicarem, como estão fazendo. E eventualmente conversar com vocês sobre isso pra ajudar de alguma maneira.
Sabe quantos jogadores têm no departamento médico? Nenhum. Nós queremos treinar. Nós queremos classificar o Brasil. Deveria ter três, quatro, pelo tipo de lesão, no departamento médico, mas eles querem treinar. É importante não esperar depois do jogo. O dirigente tem que se manifestar antes.
Os caras vão correr muito. Podem perder o jogo. O adversário que vem aqui tocou 4 a 0 no Caxias. A minha preocupação é que esses jogadores é que vão falar sobre o Brasil. Temos que ter muito cuidado, muita atenção, o dirigente tem que ter um carinho muito grande sobre o que vai acontecer com esse grupo."
Se fica ou não no Brasil em 2024
"Eu quero classificar. Se possível, quero subir o clube. Não desisti ainda. Minha situação é ir até o final da competição. Acho que já fiz a minha parte. Tem que vir outros dirigentes, outras comissões técnicas. Tenho que fazer com que as próximas comissões técnicas sempre tenham condições melhores do que as que eu tive.
Eu já não ia voltar. Foram lá, me fizeram um monte de promessas. Voltei. Mas minha parte ainda não terminou. Tem o jogo, tem a chance de subir, mas depois, eu já tinha conversado, encerra meu ciclo aí."
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